Los artículos de Eliane Brum se pueden leer, entre otros medios, en la edición internacional del País de Madrid. No será nada raro que se trate de textos largos y, se advierte, bien elaborados. Su autora tiene mucho que decir y, por más que contradiga la ley que impone espacios limitados a los textos, sus análisis son interesantes y atrapan al lector al sumergirlo en la complejidad de las temáticas que encara. Dejo en portugués sus respuestas, porque no es difícil entenderlas en su idioma originario. Es una batería de preguntas a las que aceptó responder a fines de setiembre de 2014, en plena campaña electoral, cuando no estaba asegurada la victoria de la hoy presidenta Dilma Rousseff. Digno de ser destacado el análisis de las dos componentes ideológicas de la izquierda brasileña, la que encarna el PT y su líder, Lula da Silva, y la que encarna otra Silva, Marina, la conocida ambientalista. Buena lectura.
Sin
duda, la novedad de esta campaña ha sido la aparición de Marina
Silva y la curva de su crecimiento en las intenciones de voto a
partir de la trágica muerte de Eduardo Campos. Hoy estamos cerca de
un empate con Dilma Rousseff, al menos en la segunda vuelta. Por
tratarse de una figura que fue co-fundadora con Inacio Lula da Silva
del PT, que fue ministra de Lula, legisladora durante su gestión, es
natural pensar que en el fondo su visión es similar. Pero en un
reciente análisis tuyo, has puesto de relieve que los dos Silva no
son tan similares... ¿puedes resumir estas diferencias?
Em meu artigo, intitulado “Os
Silvas são diferentes”, busco apontar um equívoco que me parece
existir na análise de Lula da Silva e Marina Silva, cometido tanto
na análise da imprensa como na de intelectuais. Vale a pena lembrar
que Silva é o sobrenome mais popular do Brasil, uma espécie de
sobrenome-símbolo do brasileiro “comum”.
O equívoco a que me refiro é
a ideia de que os pobres são todos iguais e, portanto, Lula e Marina
seriam personagens semelhantes, representantes de um mesmo Brasil,
por terem superado a pobreza e alcançado o poder num país tão
desigual. De fato, não existe um Brasil, mas vários Brasis, e Lula
e Marina são filhos de Brasis que se desconhecem. Sem compreender
isso não há como compreender o país nem o que a trajetória de
ambos representa.
Lula
é filho de uma família que fugiu da seca do sertão nordestino para
alcançar um lugar na Grande São Paulo, a região mais
industrializada do Brasil. O sonho dessa família era o de ser
incluída neste mundo urbano do centro-sul pelo caminho da fábrica,
pela via do “progresso”. Ser incluído, ali, é ter acesso aos
bens materiais e aos valores simbólicos deste mundo. Vencer na vida
é vencer no mundo do Outro, de certo modo tornando-se o Outro ou o
mais próximo de uma versão dele, ainda que mais empobrecida. A
inclusão social de milhões de brasileiros no governo Lula se dá
pela via do consumo por várias razões bastante complexas, mas
também pela concepção de mundo que Lula representa também
subjetivamente. Não podemos esquecer que, para ser objetivo, é
preciso jamais esquecer das subjetividades.
Ascender neste mundo,
portanto, é ter geladeira nova, TV de tela plana, casa melhorada,
comida industrializada, carro na garagem. Essas são as marcas de
inclusão do que se chamou no Brasil de “classe C” ou “nova
classe média”. E é para estes brasileiros que o projeto de Lula
significou inclusão social e econômica.
Já Marina Silva é filha de
uma família que também foge da seca, mas foge para a floresta
amazônica, onde ela nasce e de onde só vai sair senadora, aos 36
anos. Nesse universo da floresta, a ameaça permanente é dada
justamente pela transformação da terra em mercadoria: a floresta
expropriada e devastada na mão de poucos, a floresta virando
plantação de soja, pasto para boi e extração de minérios pelas
grandes mineradoras, a floresta virando commodities para exportação
– e não mais floresta. E o desafio para o povo de Marina é manter
a floresta como floresta. O desafio para os povos da floresta –
seringueiros, ribeirinhos agroextrativistas, quilombolas e as mais de
duas centenas de etnias indígenas – é justamente escapar da
conversão em pobre, é ser respeitado como uma outra experiência de
brasilidade. É nesta luta, na qual Marina Silva teve Chico Mendes
como um mentor, que ela se forja como política.
Entre estes dois Brasis, até
mesmo o conceito do que é ser pobre e do que é ser rico é diverso.
É uma outra visão de mundo, dada por outra experiência de ser
brasileiro. É como diz hoje a população agroextrativista ameaçada
pelas grandes hidrelétricas no rio Tapajós: “Nós não queremos
carro nem cesta básica, nós queremos a floresta viva”. O que eles
estão dizendo ao centro-sul é: nós não queremos ser vocês. Ou
nós não queremos virar pobre na periferia urbana e ser incluído no
cadastro do Bolsa Família. Uma mensagem bastante incompreensível
para as parcelas urbanas do Brasil, majoritárias; para a esquerda
que Lula e Dilma representam, que ignora os novos desafios surgidos
nas últimas décadas; para todos aqueles que acreditam que só
existe um jeito de estar incluído neste mundo. Essa mensagem
perturbadora coloca os povos da floresta de imediato como um entrave
ao projeto de desenvolvimento do governo.
Se essa aliança foi possível
nos primeiros anos de governo, em que as diferenças estavam borradas
em nome da ascensão ao poder, era previsível que ela chegaria a um
impasse. Em determinado momento, com mais clareza no segundo mandato
de Lula, Marina Silva e sua visão de mundo tornaram-se um entrave
para o projeto desenvolvimentista, que previa grandes obras na
Amazônia, como as grandes hidrelétricas construídas por grandes
empreiteiras para fornecer energia para as grandes indústrias
eletrointensivas – tudo grande! – num governo em que o
crescimento se deu, principalmente, pela exportação de commodities.
Assim, não é surpreendente,
mas previsível, que entre suas duas ministras, Dilma Rousseff e
Marina Silva, Lula tenha escolhido a primeira. Se Lula e Marina podem
ser vistos como brasileiros pobres que alcançaram o poder, as
semelhanças acabam por aí, já que os Brasis no qual se originam e
se forjam politicamente, os Brasis onde constituem sua visão de
mundo e seus sentidos, são totalmente diferentes e estranhos um ao
outro.
Pese
a tales diferencias, en que se diferencia la propuesta de gobierno
de Marina de la gestión realizada por Dilma. porque es quizás la
parte más difícil de captar para quienes observan la campaña
desde otros países.
As
diferenças não são difíceis de perceber apenas por quem vive em
outros países, mas também por quem está dentro do Brasil. Se
Marina Silva é uma referência internacional como ambientalista, se
sua origem e sua trajetória a credenciam para fazer uma ponte
inédita entre os vários Brasis, se ela seria capaz de encarnar uma
esquerda mais horizontal e conectada aos novos desafios do século
21, seu discurso nesta campanha de 2014 parece esvaziado dessa
potência.
Marina
Silva não conseguiu construir seu próprio partido, a Rede, e está
disputando a eleição pelo PSB, um partido que representa, em parte,
a “velha política” que ela tanto critica, e reúne alguns
quadros com posições opostas a que ela defendeu ao longo da sua
trajetória. Para tornar-se mais palatável tem buscado agradar às
várias forças em conflito, o que levanta muitas dúvidas sobre que
presidente ela será, caso ganhe a eleição. Sabemos o que poderia
vir a ser, o que teria potência para ser, pela sua trajetória e
pelas suas posições no passado, mas não se sabe o que ela
efetivamente será caso vença a eleição.
Falar
que governará pensando em desenvolvimento sustentável é bastante
vago, já que nenhum candidato, de nenhum partido, irá dizer que não
quer um desenvolvimento sustentável. O guarda-chuva do
“desenvolvimento sustentável” serve para tudo. Mas ela tem
evitado dizer, concretamente, o que fará e o que não fará, quais
são os seus limites e como se posicionará frente aos diversos
conflitos em curso hoje no país e que, no fundo, expressam uma ideia
de Brasil e uma ideia de futuro. É desse debate que ela poderia ser
protagonista, mas, por várias razões e possivelmente alguns
equívocos, preferiu não ser.
Marina
Silva poderia ser a candidata preparada para representar os anseios e
a insatisfação com a política tradicional da massa de pessoas, a
maioria jovens, que foi às ruas em junho de 2013, e que busca maior
participação política, para além dos partidos e das eleições.
Mas seus vários recuos tem produzido afastamento e desconfiança.
Há
também um receio, amplamente explorado pelos seus adversários, de
que, como evangélica, ela não respeite a laicidade do Estado. O
fato de ter voltado atrás no seu programa de governo, no que se
refere aos direitos LGBT (Lésbicas, Gays, Bissexuais, Transexuais,
Travestis e Transgêneros) foi um marco negativo em sua campanha,
assim como sua posição pessoal contra o aborto, tema para o qual
chegou a propor um plebiscito. Ela tem sido chamada de
“fundamentalista”, mas de fato não é. Compreender o Brasil
evangélico, complexo e muito variado, é outro desafio dessa
eleição.
Mas
a dúvida maior em torno de Marina Silva, para aqueles que percebem a
mudança climática como uma das questões cruciais – ou mesmo “a”
questão crucial – deste momento histórico, é se ela será capaz
de trazer para o centro outros Brasis que estiveram à margem deste
governo, se terá a coragem para fazer as necessárias alterações
de percurso que será preciso fazer, ou se não será muito diferente
de Dilma Rousseff e mesmo de Lula, que fizeram alianças com o que há
de mais arcaico na política brasileira e cujo projeto contempla uma
percepção de desenvolvimento paralisada no século 20. Marina teria
a potência de representar uma esquerda deste século 21, porque ela
é capaz de compreender o que está em jogo e que mundo é este,
bastante diferente do mundo que foi; tem amplitude e inteligência
para perceber que a questão não é só crescer, mas distribuir;
assim como entende que fazer justiça social não se resume a incluir
pessoas no mundo do consumo, mas ser capaz de perceber que alguns
precisam ser incluídos, outros apenas respeitados e protegidos em
seu direito de ser diferente, como os povos indígenas e as
comunidades tradicionais.
Marina
Silva já demonstrou, com sua história e sua atuação, ter essa
compreensão dos desafios desse momento e poder representar algo
novo, mas seu discurso nesta campanha e suas alianças não sinalizam
nessa direção. Assim, sua diferença fica borrada. Como a atual
campanha tem se mostrado de baixíssimo nível, produzindo mais troca
de agressões no noticiário do que aprofundando o debate, torna-se
ainda mais difícil clarear as diferenças.
¿En
el caso de la propuesta de Aecio Neves, el PSDB sigue la línea más
neoliberal seguida por Fernando Henrique Cardoso?
Não
conhecemos a proposta de Aécio Neves, na medida em que até o
momento em que dou essa resposta (26/09), faltando menos de dez dias
para o primeiro turno da eleição, nem ele nem Dilma Rousseff
apresentaram seu plano de governo. O que talvez valha a pena chamar a
atenção, no caso do PSDB, é que o partido, na figura de José
Serra, foi responsável pelo rebaixamento do debate que permanece até
hoje. Na campanha de 2010, na tentativa de obter o voto religioso,
Serra rifou os direitos das minorias ao colocar Dilma Rousseff como
“abortista”. Uma campanha subterrânea, apócrifa, dizia que
Dilma era uma “assassina de fetos”. Dilma então comprometeu-se,
em carta, a não avançar na legislação do aborto. Nenhum dos dois
candidatos se propôs a discutir o tema com a seriedade que ele
exige, apenas provar qual dos dois seria mais eficiente na meta de
não avançar um milímetro no debate. Em 2012, quando Serra foi
candidato à prefeitura da cidade de São Paulo, de novo na tentativa
de obter o voto religioso, ele atacou o kit anti-homofobia, material
didático preparado pelo seu oponente, Fernando Haddad, do PT, quando
era ministro da Educação. O kit anti-homofobia havia sido preparado
com o objetivo de trabalhar a questão das diferenças e combater a
violência homofóbica nas escolas públicas, mas já havia sido
suspenso por Dilma Rousseff, em uma de suas muitas capitulações
diante da bancada evangélica. Mas, mesmo assim, Serra aplicou mais
esse golpe abaixo da cintura, ignorando em nome do oportunismo
eleitoral, que pessoas morrem por crimes homofóbicos.
Estes
foram dois momentos emblemáticos das últimas campanhas eleitorais,
que colocaram o debate na lama, de onde ele nunca mais saiu. Esse
rebaixamento tem a marca do PSDB e os estragos provocados por ele não
são pequenos e ainda precisam ser melhor compreendidos. O governo de
Dilma Rousseff foi marcado pela barganha e pela chantagem dos
direitos das minorias pela bancada evangélica no Congresso, em troca
de apoio em votações consideradas prioritárias pelo Executivo.
A
partir de 2010, me parece, o PSDB começou a perder o que ainda lhe
restava de uma aura de partido arejado, moderno, fundado por figuras
estratégicas no processo de redemocratização do país, com quadros
intelectualmente bem preparados, e ficou reduzido ao que havia de
mais tacanho entre seus membros. A grosso modo, ficou com uma cara
menos parecida com a de Fernando Henrique Cardoso e consolidou
feições mais semelhantes a de Geraldo Alckmin, o governador de São
Paulo que tem grandes chances de se reeleger ainda no primeiro turno.
A identidade do PSDB parece ter se perdido nos últimos anos, em que
o partido se mostrou incapaz de se renovar e perceber as mudanças do
país, como os protestos de junho de 2013. Se mostrou incapaz até
mesmo de fazer uma oposição consistente ao governo do PT. Apesar de
manter sua força em alguns estados importantes, como São Paulo, é
um partido que nos últimos anos encolheu em sua articulação com os
diferentes segmentos da sociedade.
Cómo
calificaría la gestión de Dilma?
Acho
que a presidente Dilma Rousseff é uma pessoa bem intencionada e
possivelmente honesta, que acredita estar fazendo o melhor para o
país. Mas ela é limitada e sua visão de mundo, manifesta em seu
governo, é estreita. Foi uma gestão medíocre, na qual faltou
imaginação e sobrou autoritarismo.
Quando
Dilma disputou a primeira eleição, em 2010, foi apresentada por
Lula e pela propaganda eleitoral como uma “gerente”. A dúvida de
muitos, naquele momento, era se um presidente deveria ser um bom
gerente ou se o que se deveria desejar de um presidente é que ele
fosse um estadista. Ao ser eleita e começar a governar desenhou-se o
pior quadro: Dilma Rousseff não era uma estadista, o que já se
sabia, mas tampouco era uma boa gerente. Pelo contrário, mostrou-se
uma gerente tecnicamente tacanha, com dificuldades de articulação
política e nenhuma capacidade ou mesmo vontade de escutar a
sociedade e os movimentos sociais. Aos poucos, as pessoas que
poderiam trazer outros pontos de vista foram ou sendo afastadas ou se
afastando voluntariamente da administração, por não encontrarem
espaço de interlocução, empobrecendo ainda mais o seu governo.
A
visão de mundo da atual presidente e candidata à reeleição, como
já citei em outra resposta, estacionou no século 20. Isso fica mais
claro na forma como seu governo tratou a Amazônia e os povos da
floresta. E insisto aqui na questão amazônica, porque ela é
central. Entender a sua centralidade é algo que Marina Silva
consegue, por exemplo, e Dilma e Lula não.
Apesar
de Dilma Rousseff ter lutado contra a ditadura civil-militar
brasileira (1964-1985) e ter sido torturada por ela, seu projeto para
a Amazônia guarda muitas semelhanças com o projeto da ditadura. É
um dado bastante fascinante para quem for escrever a sua biografia,
mas desastroso para o país. A Amazônia, para Dilma e também para
Lula, é um corpo para exploração. Em sua visão, a floresta
precisa ser dominada para servir ao projeto desenvolvimentista:
grandes obras, como as hidrelétricas, executadas por grandes
empreiteiras, que também são as grandes financiadoras das campanhas
políticas; grandes projetos de mineração; grandes fazendas de gado
e de soja. A floresta é vista como uma fonte de commodities – e os
povos da floresta precisam ser domesticados para não atrapalhar o
processo de espoliação. Neste caminho, as comunidades tradicionais
e os povos indígenas tornam-se entraves a esse tipo de
desenvolvimento. Eles não são vistos por este governo como sujeitos
de direitos, com uma riqueza cultural e um conhecimento necessários
ao Brasil, mas como as pedras no caminho que precisam ser atropeladas
para não atrasar o “progresso”.
Para
implantar Belo Monte, que se tornou o grande símbolo da ideia de
Brasil e de desenvolvimento dessa gestão, Dilma Rousseff atropelou
os procedimentos de setores do seu próprio governo para forçar a
licença ambiental e não cumpriu a legislação que determina a
consulta prévia, livre e informada dos povos indígenas e das
comunidades tradicionais. A obra foi imposta, com extremo
autoritarismo, usando para isso toda a força da máquina do Estado e
dos poderosos interesses associados a ela. Foi usada inclusive a
Força Nacional de Segurança para reprimir protestos contra o
empreendimento promovidos por indígenas, ribeirinhos e agricultores,
assim como reprimir operários em greve. Belo Monte, em seu início,
era um projeto da ditadura, mas, devido à resistência indígena e
dos movimentos ambientalistas, nem mesmo a ditadura tinha conseguido
executá-lo. O PT conseguiu.
A questão socioambiental,
para Dilma, é claramente de segunda ou terceira classe, é uma
atrapalhação para o seu projeto desenvolvimentista, baseado em
grandes obras. Ela ainda vê as pessoas preocupadas com questões
como mudança climática como sonhadores (ou ecochatos) que vivem num
mundo de fantasia. Tanto que uma de suas medidas foi diminuir o
imposto para estimular a compra de carros, optando por um conceito
individualista e privado de mobilidade urbana, sem nenhuma
preocupação com o aumento da poluição e das emissões de gases do
efeito estufa. Ninguém mais consegue se mover nas grandes cidades
brasileiras, os engarrafamentos em uma São Paulo cada vez mais
poluída e agora assolada pela seca que ameaça deixar milhões sem
água, geram cenas de filmes-catástrofe. Vale lembrar que os
protestos de junho de 2013 começaram pelo aumento da passagem do
transporte público, que é péssimo no Brasil. Agora mesmo, na
Cúpula do Clima, em Nova York, Dilma se recusou a assinar o
compromisso de desmatamento zero. O desmatamento da Amazônia, que
havia diminuído em grande parte por ações de Marina Silva como
ministra do Meio Ambiente de Lula, voltou a crescer: 29% entre 2012 e
2013, o equivalente a quase cinco cidades do Rio de Janeiro. Dilma
Rousseff definiu-o como “aumentinho”.
Seu
desempenho em outros setores, como na reforma agrária, foram
igualmente decepcionantes. Também nunca se demarcou tão poucas
terras indígenas e áreas de conservação ambiental desde a
redemocratização do país. O desempenho de Dilma nesta área foi
muito inferior ao de Fernando Henrique Cardoso e de Lula, por
exemplo. Há processos de genocídio em curso, como o dos
Guarani-Kaiowá, no Mato Grosso do Sul, que se acentuaram no seu
governo. A educação brasileira segue sendo uma calamidade que
compromete qualquer futuro que se possa imaginar para o país,
independentemente do projeto político. No que se refere aos direitos
das minorias, como mulheres e pessoas LBGT, ela recuou em todas as
frentes, curvando-se às chantagens da bancada evangélica no
Congresso.
Em
resumo: se por um lado há uma crítica consistente de que Dilma
Rousseff representa uma esquerda que estacionou no tempo e desconhece
os novos desafios impostos por um mundo em processo profundo de
mudança e por um modo de vida ameaçado pela alteração climática,
por outro também se pode afirmar que seu governo traiu uma parte
significativa dos ideais dessa mesma esquerda tradicional, como no
caso dos direitos das minorias. É preciso reconhecer, porém, que
Dilma Rousseff deu continuidade a programas sociais como o Bolsa
Família, mesmo numa conjuntura difícil, que o desemprego no Brasil
está razoavelmente controlado e que a política de aumento real do
salário mínimo está sendo mantida. Estes são pontos importantes
iniciados no governo Lula e mantidos por Dilma.
Recientemente,
Leonardo Boff ha realizado una dura crítica a Marina, hasta
señalando que posiblemente para poder gobernar deberá obtener los
votos del PMDB. Sin embargo, hoy el PT ya gobierna en alianza con el
PMDB... esta crítica llama un poco la atención.
Só
Leonardo Boff pode explicar o que disse.
Cuando
Marina convoca para un eventual gobierno a José Serra da la
impresión que esté intentando cerrar una fractura poco
comprensible desde el exterior, entre el PSDB y el PT, porque es
difícil comprender cómo para el PT sea posible aliarse con el PMDB
y no con el PSDB. ¿Marina se ilusiona con esta idea o está
tratando de superar diferencias que más bien se deben a las
personalidades fuertes que lideran estos partidos?
Marina
Silva tem dito que vai “governar com os melhores”,
independentemente do partido político. Tem repetido que “não faz
oposição pela oposição nem situação pela situação”. Em
lugar de dizer que não governa com este ou aquele partido, ela
optou, pelo menos em seu discurso, por dizer que governa com algumas
pessoas de diferentes partidos e não governa com outras pessoas, dos
mesmos partidos. Para alguns, isso parece um tanto vago e até mesmo
ingênuo, como se diferenças ideológicas não fossem importantes.
Para outros, são os partidos políticos, com seu fisiologismo e seu
pragmatismo de ocasião, que borraram as diferenças ideológicas, a
ponto de não fazer mais diferença. Vale lembrar que, nos protestos
de junho de 2013, os manifestantes recusavam os partidos políticos –
todos eles – dizendo que eles não os representavam. Era uma
sinalização de uma busca por uma democracia mais horizontal e menos
centralista, em que a política precisa ir muito além do período
eleitoral. De certo modo, Marina está conectada com esses anseios.
Me parece que seu discurso sobre “governar com os melhores” têm
mais relação com isso do que com os próprios partidos em questão.
Vale lembrar que o nome do partido que ela não conseguiu registrar a
tempo é “Rede” e se propunha a ter uma forma diferente de
organização. Na hipótese de ela ser eleita, teremos de ver qual é
o real significado desse discurso, caso ele se concretize na prática.
¿Consideras
que hay un cambio en el electorado brasileño? ¿Estos meses de
protesta social, han influido sobre la conciencia política de los
ciudadanos, han creado mayor participación?
Os protestos de junho de 2013
têm muitos significados – muitos deles ainda por ser desvelados.
Mas se pode afirmar que eles marcam o anseio de uma nova geração
por representação política para muito além das eleições. É
preciso lembrar que manifestantes com bandeiras de partidos políticos
foram expulsos das manifestações. A palavra de ordem era: “Não
me representa”. Isso significa uma profunda decepção com os
partidos e uma descrença na possibilidade real de mudança apenas
pela participação em eleições. Essa é uma geração que quer
participação política para muito além do voto. E essa foi também
uma das razões para a violenta repressão policial às
manifestações, por parte do Estado, que se sentiu ameaçado. Logo,
os manifestantes foram tachados de “vândalos”, numa tentativa de
tirar a legitimidade de uma manifestação política a que os
partidos no poder não estavam acostumados nem sabiam como
interpretar, e que surpreendeu até mesmo os partidos menores, de
esquerda. É o momento em que o PT, por exemplo, descobre que já não
é mais o partido das ruas. E que as lutas agora se dão por outros
caminhos, para além das centrais sindicais e das organizações
sociais tradicionais. O antropólogo Eduardo Viveiros de Casto
costuma afirmar que no Brasil, hoje, só existem dois tipos de
cidadão: o eleitor e o vândalo. É uma ironia para dizer que, se o
cidadão se manifesta politicamente fora do período eleitoral,
imediatamente vira vândalo. Os protestos de junho de 2013 mudaram o
país, o quanto ainda não temos como avaliar. Mas esse anseio por
participação política, menos centralista e mais horizontal, é um
marco. E, claro, não é só no Brasil. Esses anseios estão pelo
mundo todo.
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